O novo filme de Steven Spielberg segue a mesma diretriz de suas últimas produções, foge da fantasia para viver a vida como ela é

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: FOX

A partir dos anos 80, ouvir ou saber que Steven Spielberg estava lançando um novo filme seria motivo de sobra para se pensar em correr para o cinema e encarar enormes filas, as platéias ávidas por uma nova idéia transformada em imagem, assinaturas usuais do diretor americano, serviam de combustível para se viver uma aventura sem precedentes, sentados em uma poltrona.


É muito difícil para um fã como eu, entender o atual momento que passa o diretor, não por falta de dinheiro, como eram as suas primeiras investidas no mundo do cinema, mas pela estranha forma como a fantasia se diluiu com a idade que acabou chegando para nós e principalmente para ele.


A última grande inovação em termos de imaginação colocada na tela foi no filme Minority Report, que deixou o Steve Jobs enlouquecido com as telas que mudavam de posição e fez com que o gênio da Apple resolvesse colocar aquela tecnologia em Smartphones. Foi uma revolução de efeitos, conceitos, direitos e da comunicação no mundo, será que o cineasta se deu conta disso?


Os dois últimos filmes, Cavalo de Guerra e Lincoln exageraram no tamanho e na complexa forma como foram narrados, nem mesmo o uso do logotipo do estúdio serve mais para começar a se contar uma história que vai surpreender o público, agora é um “vamos direto ao assunto” e segue a carruagem sem os sempre esperados efeitos visuais, que ficaram para trás.


Estréia na quinta-feira o filme, produzido e dirigido por Steven Spielberg, Ponte Dos Espiões (Touchstone Pictures, DreamWorks Pictures, Fox 2000 Pictures, Participant Media, Reliance Entertainment, Amblin Entertainment, Marc Platt Productions, 20th Century Fox) é um drama que conta a história de James Donovan (interpretado pelo sempre eficiente Tom Hanks), um advogado de seguros do Brooklyn que é empurrado para o meio da Guerra Fria, quando a CIA o envia para a tarefa de negociar o resgate do piloto americano de um U-2 que foi capturado.


É baseado em fatos e situações reais, têm aquele enredo bem elaborado pelos irmãos Cohen (Ethan e Joel) a fotografia envolvente do polonês Janusz Kamiński, a edição sempre correta do Michael Kahn, mas não tem mais a música mágica de John Williams, um dos amigos inseparáveis do diretor durante seus anos de glória. Tudo do bom e do melhor, todos dentro do generoso orçamento de US$ 40.000.000 e comandados por um grande realizador, que se tornou também um excelente produtor. Mas o que pega?


O longa tem grandes takes (Spielberg adora plano-seqüência), imagens fortes vistas sempre de longe, reconstituição de época impecável e atuações corretas, mas um objetivo inverso, atirou em um e acertou o outro. O destaque não é para Hanks, que está normal demais e com expressões de menos, mas sim para o inglês Mark Rylance, pouco conhecido no mundo do cinema, porém muito respeitado no teatro.


A impressão é que o filme vai ser única e tão somente com ele, a sua atuação ofusca a de Tom, dos outros atores, entre eles o quase octogenário Alan Alda, que são relegados a um distanciamento tão grande da trama que parecem ser coadjuvantes desnecessários, isso é coisa da mão do diretor e seu novo jeito de contar uma história.


O filme é longo, são 2 horas e 21 minutos de exibição, vale por ser um documento e uma forma cinematográfica competente de relatar fatos que aconteceram no mundo nos tempos da guerra fria, mas deixa muita coisa de fora, incluindo o que aconteceu com a namorada de Fredrick Pryor, outro americano trocado na mesma ação, e que tanto lutou para saber do amado?


Claro que é um filme para se assistir bem acompanhado, com alguma noção do que acontecia no mundo naqueles dias sombrios da guerra fria e o quanto EUA e URSS colaboraram para tirar o sono de todos os povos do planeta. Ponte Dos Espiões tem arte e bom gosto, pode-se amar ou odiar, mas é inegável a capacidade que Spielberg tem para recriar fatos históricos sem alienígenas, efeitos visuais e outros quetais.


O gênio ainda dorme sobre sua imensa cama de dólares e prestígio, quem sabe ele não acorda e volta a ser o menino indomável e criativo dos anos 80 e 90 que todos adoravam? Tomara que não demore, estamos com saudade.


A gente se encontra na semana que vêm!

Beijos & queijos

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