Baseado em uma história real, o filme traz um Johnny Depp diferente dos seus últimos personagens

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros.

Não basta ser ator competente, não basta ser um roqueiro com grande talento, nem mesmo um filantropo que consegue fazer em um dia o que um governo não fez em décadas, tem que ser tudo isso junto, tem que ser Johnny Depp.


Um cara muito versátil, que encara qualquer desafio, vai do drama à comédia com a mesma destreza que encara um blues e um rock pesado na mesma apresentação. Acredito que não poderia ter sido a escolha mais perfeita para viver um personagem que, durante anos, perturbou e enrolou o FBI, uma pessoa cruel e ao mesmo tempo amorosa.


Estréia nesta quinta-feira um filme perturbador, Aliança do Crime (Cross Creek Pictures, RatPac Entertainment, Le Grisbi Productions, Free State Pictures, Head Gear Films, Warner Bros. Pictures) que mostra o lado negro da polícia quando ela resolve se tornar sócia do bandido.


Na região sul de Boston nos anos 1970, o agente especial do FBI John Connolly (Joel Edgerton, lembrado por Exodus: Deuses e Reis) convence o mafioso irlandês Jimmy “Whitey” Bulger (vivido magistralmente por Depp, em um de seus melhores papéis) a colaborar com o FBI a fim de eliminar um inimigo em comum para as duas partes: a máfia italiana.


O drama conta a história desta inusitada aliança que saiu do controle, permitindo que Whitey descumprisse leis impunemente enquanto consolidava seu poder, tornando-se um dos gângsteres mais cruéis e perigosos da história de Boston e fazendo todos à sua volta ricos.


O que realmente espanta no filme é a atuação de Johnny Depp, completamente transformado, com uma maquiagem que lembra muito o criminoso americano. Nas cenas de ação ele sempre coloca uma enorme dose de brutalidade e suas mudanças de feição causam temor, como ótimo ator que é ele vestiu completamente o personagem. E tem mais: o histórico do diretor já o credencia a pelo menos ser indicado ao prêmio da academia pela atuação.


O filme é dirigido por Scott Cooper, que tem no currículo Coração Louco, filme que deu o Oscar® de melhor ator para Jeff Bridges e Tudo Por Justiça, um filme violento que apresenta um Christian Bale completamente transformado. Aliás, essa parece ser a marca registrada desse americano, transformar seus atores principais em pessoas muito diferentes de trabalhos anteriores, tanto na parte física quanto na de interpretação e tirar deles o máximo que os personagens exigem.


O desenho de produção é muito cuidadoso, o filme foi ambientado nos anos 70 e, tanto os carros e as roupas nos levam a uma viagem no tempo muito clara, mas o que fica mais evidente é o trabalho de se restaurar as ruas de Boston, seu lado mais conservado e suas vielas mal cuidadas, um trabalho perfeito da italiana Stefania Cella lembrada e premiada por A Grande Beleza.


Com isso, a captação feita pelo diretor de fotografia Masanobu Takayanagi (Tudo por Justiça, O Lado Bom da Vida, A Verdadeira História), ficou muito mais simples e ele pode ousar e procurar tons mais “pastel”, típicos das séries e filmes da década que acontecem os fatos. As cenas com cortes de luz (meio claro, meio escuro) faz brilhar apenas quem está em evidência, esconde os defeitos e foca a atenção no detalhe, por isso os planos gerais são mais “clean” na tela.


A edição é como se fosse uma leitura de um livro, suas passagens são suaves e as cenas de ação são exploradas ao máximo, graças à quantidade de takes ser generosa e que facilitaram a vida do editor Oscar David Rosenbloom (O Informante, Tudo Por Justiça).


Mas de nada adianta ter uma competência técnica deste tamanho sem um elenco que corresponda. O deste filme é de respeito, nele se destacam, além de Depp, Benedict Cumberbatch, indicado ao Oscar® pelo perturbador O Jogo da Imitação, Dakota Johnson (Cinqüenta Tons de Cinza, A Rede Social), Kevin Bacon (Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo, Sobre Meninos e Lobos, Frost/Nixon, X-Men: Primeira Classe) entre outros vários, que deram corpo e alma a essa reconstituição de época, tornando esse um dos filmes imperdíveis do ano.


O longa está longe de ser um clássico, custou US$ 53.000.000 e já faturou mais de US$ 75.000.000 nas bilheterias dos Estados Unidos, claro que prova que o sistema de justiça americana sempre pega seu homem, que os corruptos pagam por seus erros e pela tentação do dinheiro fácil, mas principalmente serve de lição para nós brasileiros que testemunhamos hoje o envolvimento de políticos, da polícia e da justiça com o crime organizado.


Mesmo que você não aprecie o tema, que não goste de violência desmedida (são cenas fortes de assassinatos) Aliança do Crime é uma grande obra cinematográfica, seus personagens são densos e impressiona o fato de tudo ter acontecido de verdade, é adulto, masculino e muito forte, é para ver rever, é principalmente para conhecer o lado cruel e talentoso de Johnny Depp.


A gente se encontra na semana que vêm!

Beijos & queijos

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